Andréia Teixeira
A família Santos era constituída por muitos membros. Eram exatamente doze, quando o patriarca ainda era vivo. Dona Isabel, 69 anos, viúva, era a matriarca daquela geração e tinha muito orgulho dos seus dez filhos. Eles são como Dona Isabel diz até hoje três meninos, número significativo na bíblia e sete meninas. Outro número também merecedor de atenção, pois lembra muitas coisas, inclusive o número da perfeição, de acordo com o mais antigo livro do mundo. Os dez irmãos são: Sara, Mariângela, Pedro, Helena, João, Ana Clara, Ester, Ana Lúcia, Maria Luíza e Lucas.
Sara era a mais velha, solteira, 46 anos e muito ranzinza. Ela conseguia implicar com tudo e com todos. E o que mais gostava de fazer era dar ordens até para a sua mãe, que era muito humilde e muitas vezes, para não criar atritos fazia o que a filha pedia ou mandada. Eram as tarefas domésticas como: fazer um café da manhã, preparar o almoço, lavar e passar roupas, etc. Sara às vezes chegava até a abusar da bondade e humildade da mãe, alegando que não conseguia fazer nada, pois ingeria remédios fortes fazendo-a ficar meio bamba e sem forças. Porém, nem sempre era assim como ela contava, de vez em quando era manha, e outras vezes era pura carência, porque queria a mãe sempre do seu lado até em momentos difíceis para Dona Isabel.
Os outros filhos de dona Isabel eram quase todos casados: Mariângela era casada há 22 anos. Cuidava da casa, dos filhos, do marido, da neta e do seu trabalho, pois era funcionária pública do município. Pedro casou com apenas 21 anos, é pai de três filhos e trabalha como motorista. Helena casou aos 25 anos, é enfermeira muito dedicada, e trabalha há dezesseis anos no hospital municipal. João casou aos vinte anos é pai de família e também trabalha como motorista, porém de máquina pesadas. Ana Clara casou com a mesma idade de Mariângela. Após o casamentos terminou os estudos primário, secundário e profissionalizante se formando em segurança. Ela ainda aguardava uma oportunidade de emprego, mas não deixava de fazer algo para aumentar a sua renda. Ester era a única professora da família. Graduada e Pós-Graduada em Letras. Lecionava há dezesseis anos, chegando a trabalhar com quase todas as séries do ensino básico. Atualmente ela trabalha com alunos do 3º ano do Ensino Médio em um município próximo da sua cidade, ele fica cerca de vinte cinco minutos da sua casa. A docente gosta muito do seu trabalho, mesmo tendo consciência da desvalorização da educação no país. Acredita que um dia isso vai passar, o magistério terá seu devido valor e os profissionais da educação.
Ana Lúcia tornou-se mãe cedo, com apenas 18 anos. Casou, continuou a estudar e é a outra enfermeira da família. Trabalhou em algumas clínicas, fez plantão particular chegando a receber um salário digno da profissão. Mas ela queria um emprego mais seguro, um cargo público e atualmente trabalha no Hospital Mário Pena em Belo Horizonte.
Maria Luíza também casou muito nova, com a mesma idade em que Ana Lúcia se tornou mãe. Só que Luíza, como a chamam, deu continuidade aos seus estudos concluindo o fundamental, o médio e técnico também em enfermagem, mas ainda não atua na profissão. Porém, ela não perdeu tempo, buscou meios de se inserir no mercado de trabalho, e já alguns anos trabalha em uma empresa grande vinculada a Anglogold Ashanti. E não tem o que reclamar, pois ali ela desenvolve as suas atividades e ainda tem alguns privilégios.
Lucas era o caçula, meio chato, bagunceiro, teimoso e ainda muito imaturo. Tinha muito o que aprender com a vida, mesmo com os seus 28 anos. Ele por vontade própria, ficou muito tempo sem trabalhar porque tinha de tudo em casa, e não se preocupava muito com nada, mesmo tendo experiência como sondador. Mas graças as orações da família Santos a oportunidade apareceu, e atualmente ele está no sul do Brasil, lá no Rio Grande, trabalhando muito na sua área. Aqui na cidade, local onde a família mora, todos, inclusive a Dona Isabel tem pedido a Deus para continuar abençoando os seus filhos e o seu lar, como Ele sempre fez, mesmo sem o patriarca que já se foi há mais de vinte anos.
A matriarca sempre fala que quem tem Deus tem tudo, e se não fosse Ele, não saberia como criar os seus dez filhos, que são pessoas honestas e trabalhadoras. Segundo a senhora, eles servem de exemplo para muitos outros, que tiveram tudo um dia: um pai presente e vivo, casa luxuosa, carros do ano, cargos cobiçados, mas não tiveram o mais importante que é Deus, que segundo ela, é quem que nos concede tudo, e de graça, por isso Dona Isabel só tem que agradecer todos os dias pelo o que o Altíssimo tem feito na sua casa e na família Santos.